Como
surgiu a ideia de fazer esse disco?
Encontrei
Roberto em 2011 no “Show De Paz” no Rio e ficamos amigos
imediatamente. Mesmo que sejamos de gerações e culturas diferentes
descobrimos que temos muito em comum do ponto de vista da música,
filosofia e etc. Durante as nossas conversas por Skype e e-mail,
descobrimos que amamos não somente os grandes "standards"
do Great American Songbook, mas amamos também os discos de Julie
London e Barney Kessel. Convidei o Menescal a fazer umas faixas no
meu disco, “The Changing Lights”. Foi durante a gravação que
ele deu a ideia de um disco de standards no estilo íntimo de voz e
guitarra como Julie London e Barney Kessel. Claro, disse OK sem
hesitar!
Era
uma vontade antiga regravar clássicos da música dos Estados Unidos?
Mesmo
que tenha cantado mais as canções inéditas, francesas e a música
brasileira nos últimos anos, nunca deixei de cantar os clássicos
norte-americanos. Mas a ideia de fazer um disco assim com Menescal
foi tão natural. A gente compartilha uma sensibilidade. Parecia
muito natural fazer este repertório com Roberto. Também antes de
gravar, falamos muito das coisas em comum entre o mundo dele, a Bossa
Nova, e a meu mundo do Jazz, falamos da ligação da harmonia e para
este projeto em particular, a ligação entre o relacionamento muito
íntimo da voz e violão e que poderíamos criar de novo aquela
atmosfera. Menescal nos fala muito dos anos no início, cantando,
tocando na casa da Nara Leão, e os duetos que eles fizeram juntos,
parecido com Barney e Julie. Queríamos continuar nesta tradição.
E
a escolha do repertório do disco foi difícil?
Foi
difícil, mas somente no sentido que tínhamos uma escolha tão
grande. A dificuldade foi eliminar tantas canções que poderíamos
ter gravado. Na realidade, fazer dez discos assim teria sido fácil!
Como
é o cenário musical para esse tipo de música nos Estados Unidos? É
algo que os jovens também escutam?
Esse
tipo de música fez parte da cultura dos EUA sempre. Ouve-se na
rádio, nas lojas, nos filmes etc. Por isso, os jovens ainda conhecem
bastante bem os standards e já existe um público que ama os
Standards. O disco com Roberto tem sido muito bem recebido.
Como
foi o processo de gravação desse disco?
Planejamos
o disco por Skype e e-mail. Roberto escolheu a maioria do repertório.
Para mim, a única canção que eu sugeri que Roberto ainda não
conhecia foi “If I'm Lucky”, de Perry Como. Eventualmente,
Roberto chegou em Londres para gravar. Ensaiamos em casa bem
relaxados e depois fomos para o estúdio. O estúdio fica no campo,
fora de Londres. Tem jardins lindos e um clima muito aconchegante.
Gravei todos os meus discos ali e foi um prazer introduzir Roberto ao
meu mundo depois de sermos tão bem recebidos no Brasil.
Quando
escuto Tenderly, ele soa quase que ao vivo, e muito orgânico. Essa
era a ideia?
Foi.
O clima é quase bossa nova - voz e violão. Não foi uma grande
produção, mas é a música como se toca em casa entre amigos.
Das
canções que você regravou para Tenderly, mudaram arranjos ou as
músicas são como as versões originais?
Foi
somente “In The Wee Small Hours” que eu regravei e foi um arranjo
que Menescal fez. É bem diferente.
O
disco tem músicas doces. Acha que o mundo está precisando de mais
amor nos dias de hoje?
Concordo!
Fico muito feliz de ser capaz de contribuir algo ao mundo que possa
ajudar.
Tem
algum toque brasileiro nessas músicas do disco Tenderly?
Além
da canção do Menescal, “Agarradinhos”, que tem um toque de
swing dos anos 50, como disse, o clima do disco - voz e violão e
muito bossa nova.
Sei
que você é apaixonada por música brasileira. Você descobriu algum
artista que está ouvindo atualmente?
Tem
tantos artistas aí que amo e que ainda estou descobrindo! Mas não
penso em termos de ano nem da idade, a música toca o coração ou
não.
Você
pesquisa por artistas antigos do Brasil?
Hoje
em dia, é fácil pesquisar graças à Internet, mas também os meus
amigos brasileiros, sabendo que amo a música brasileira, me mandam
nomes dos discos que talvez não tenha ouvido.... Escuto bastante
Cartola neste momento. E sempre escuto João Gilberto. Mas a lista é
enorme e não temos tempo pra falar de tudo! Passei a semana passada
apresentando “Cantiga de Longe” a alguns amigos americanos que
não conheciam o trabalho do Edu Lobo. Ficaram apaixonados.
Você
tem vontade de fazer um disco só com músicas de algum artista
brasileiro?
Já
fiz um disco “AO VIVO” e DVD com o grande cantor, compositor e
amigo, Marcos Valle. Cantei recentemente também uma faixa com Danilo
Caymmi, no disco dele que vai ser lançado daqui a pouco, tocando uma
música do Jobim. Da mesma geração, adoro a música de Edu Lobo,
Joyce Moreno, Dori Caymmi. (Isso me faz lembrar de um disco que eu
amo do Dori, “Contemporâneos”, em que ele toca as músicas dessa
geração. Uma maravilha.) Na verdade, tem tanta riqueza de
compositores talentosos, seria possível fazer muitos discos! Eu vou!
Pretende
vir ao Brasil para divulgar o disco Tenderly?
Espero
que sim! Não há nada planejado neste momento.
Quer
dizer algo mais?
Foi
uma honra gravar com Roberto Menescal. Ele é um músico e um homem
muito querido.