Criador
de composições ousadas, desafiadoras e ao mesmo tempo elegantes, o baterista
Realcino Lima Filho, conhecido como Nenê, comemora os 50 anos de carreira e tira do forno o álbum Inverno (Selo Sesc, R$ 20 em média), 12º de sua
discografia.
Leia entrevista com o músico:
Esse é o 12º disco. Como
é possível se reinventar após tantos trabalhos?
Através do estudo e
prática constante, tanto minha como do Alberto e do Írio. A preocupação com o
tempo em que vivemos. Temos ensaios regulares com a renovação constante do
repertório.
Mudou algo na hora de
gravar do que é hoje para os anos 1970, por exemplo? Pergunto isso, pois sua
música é orgânica.
O nosso modo de gravar não mudou
nada, sempre gravamos o que realmente aconteceu na gravação, não recortamos nada,
nada de overdub. O que está no CD é o que realmente tocamos naquele momento.
Tem improviso na hora da
gravação ou tudo já está muito bem organizado?
Têm os temas com os
arranjos das músicas, mas a parte da improvisação é livre. Acontece o que cada
um sentir.
A inspiração vem do
trabalho, depois de tanta experiência você desenvolve um sistema de composição
própria, baseado na inspiração e na técnica, componho todas minhas músicas no
piano.
De onde surgiu a ideia
para o nome do novo disco?
Eu já tinha ouvido as
quatro estações do Vivaldi e eu sempre gostei muito de homenagear pessoas ou
países. As quatro estações no Rio grande do Sul, onde nasci, são muito
marcantes. Assim como na Europa, onde vivi por 12 anos. Portanto, isso me
inspirou a compor essa quadrilogia, Outono, Inverno, Primavera e Verão.
Esse é o segundo disco
com esse time de músicos. Como é trabalhar com eles?
Trabalhar com Írio e o
Alberto é ótimo. São dois músicos extremamente competentes. Esse trabalho com
eles modificou minha linha de composição porque eu pude desenvolver uma
composição mais sofisticada devido ao alto nível técnico e musical que eles
possuem.
O senhor está comemorando 50 anos de carreira. Foi
difícil se consagrar como baterista no Brasil?
Ainda não me considero
consagrado. Eu vou buscar até o fim da minha vida a realização no aspecto
musical. Eu acho que a gente deveria viver pelo menos uns 180 anos para poder
realizar o sonho musical realmente. Meu pensamento funciona através da música.
O senhor encontra
dificuldade em divulgar seu trabalho?
Encontro dificuldade
porque a musica instrumental não tem acesso a mídia, tirando o Sesc e a rádio
Cultura, a gente não consegui acesso algum. Embora a imprensa reclame da
censura, nós somos censurados por ela e isso não é democrático.
Qual a maior dificuldade
que passou na carreira?
Eu nunca passei
dificuldade na carreira. Nunca me preocupei com problema econômico, comecei
muito novo e em toda minha existência, até agora, sempre me preocupei com a
música.
E quais suas melhores
lembranças dessa trajetória até agora?
São várias, desde quando
era bem garoto, ia na rádio Farroupilha para assistir os programas musicais ao
vivo, programas de auditório, até todo o período em que toquei com grandes
músicos brasileiros e internacionais: Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Elis
Regina, Milton Nascimento, entre muitos. E também agora, com o trio, que
considero o momento mais importante da minha carreira.
Nasci músico. Com 4, 5
anos ganhei um pandeiro da minha mãe e foi aí que tudo começou. Depois ganhei
um acordeom do meu pai. Isso foi o início de tudo. Sempre fui músico.
Quais os próximos
planos?
Dar continuidade com o
trabalho do trio, conseguir completar a quadrilogia, gravando os CDs Primavera
e Verão. Já estamos prontos para entrar em estúdio. E também o projeto do trio
com orquestras, com arranjos e composições de minha autoria.
Fotos: Felipe Pepe Guimarães/Divulgação
Fotos: Felipe Pepe Guimarães/Divulgação
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