sábado, 3 de outubro de 2015

O poderoso Blackning


Se você pensa que a região do Grande ABC deve algo para alguém de qualquer parte do planeta está enganado.
Trio promissor, o Blackning, de Santo André, coloca no mundo Order of Chaos, seu disco de estreia, furioso e apetitoso.
Escutamos a obra e fomos falar com Cleber Orsioli, guitarrista, vocalista e compositor do grupo.


Como nasceu essa banda?
A BLACKNING surgiu em Dezembro de 2013 após uma pausa forçada da minha ex-banda. Ao invés de esperar e ver o que ia rolar na época, ou mesmo assumir uma responsabilidade que não era minha, decidi me focar 100% em algo novo. Pra isso, chamei o Elvis Santos, amigo antigo e baterista com quem tinha começado o lance de “ter banda” - isso há uns 15 anos atrás - para iniciar um novo projeto, partindo do zero mesmo e do jeito que achávamos correto. Após alguns meses de ensaios, o Francisco Stanich também entrou na jogada, após sair da ex-banda dele. Ele ia largar a música, mas consegui resgatá-lo do limbo, após mostrar as primeiras idéias compostas do que viria a ser nosso primeiro álbum. A banda é relativamente nova, mas estamos batalhando para fazer tudo da maneira mais correta e sincera possível, para que isso transpareça em nossa música.

Quando saiu o disco?
O disco ORDER OF CHAOS saiu no Brasil em Dezembro de 2014, já há alguns meses atrás, mas a receptividade do álbum tem sido ótima entre os meios especializados, tanto do Brasil quanto em outros países.

O álbum sai por algum selo aqui no Brasil ou é independente?
No Brasil saiu pelo selo Vingança Music, ex-Encore Records. Fora isso, está para sair em breve também a edição Européia, pelo selo Espanhol Hecatombe Records. No geral, o álbum rolou muito bem, por se tratar de um álbum de estréia. Inclusive no momento estamos com poucas unidades de CDs para vender em shows, que com certeza durarão apenas para as próximos datas marcadas da tour nacional, que começará logo em breve.

E a banda, faz tudo na raça, por conta própria?
Bem, o fundamental pra uma banda é a música, mas nesses tempos atuais de dinamismo, os músicos de uma banda, e aí incluo a gente no bolo, precisam ser também aqueles que fecham os shows, que cuidam do lance da web, ajeitam entrevistas, divulgam a banda, etc. Temos parceiros espalhados por vários lugares que nos ajudam muito. Temos por exemplo, ajuda na promoção no Brasil - e na Europa, em um menor tamanho - mas no geral é a banda sim que faz acontecer. De apoios, além da Vingança Music e Hecatombe Records que nos ajudaram ao colocar o álbum no Mercado e a promover nosso nome, temos parceria com o luthier Arlindo Carraro, que trabalha na Obradec de São Bernardo do Campo e que apoia meus lances desde 2010 regulando os equipamentos das bandas que passei e que abraçou sinceramente a Blackning, temos a Mosher Clothing, uma empresa de vestuário de Portugal, que dá uma baita força na divulgação da banda por lá também, tem o estúdio Rising Power de Santo André, estúdio do André Alves (das bandas Nitrominds e Statues on Fire, aqui da nossa região), que também nos ajuda de várias maneiras, além de outros que fazem com que nosso trabalho seja mais eficiente.

Essa banda marca um novo passo na sua carreira. Dá para dizer que o Blackning é uma extensão do que você fazia no Andralls ou é algo diferente agora?
Ao montarmos a BLACKNING, Elvis e eu nos propusemos a fazer algo pesado e “porrada”, que em alguns momentos pode até remeter o que fiz na minha ex-banda, por ter a minha pegada, mas não nos prendemos em nenhum momento em fazer algo forçado. O que saiu é bem sincero e segue a linha “mais porrada” do Thrash Metal, mas diferentemente do que fazia anteriormente, a BLACKNING também tem levadas cadenciadas, melodias, um trabalho mais cuidadoso na parte lírica e na forma de cantar, enfim, vejo como uma evolução natural até mesmo na minha forma de compor e tocar as minhas partes, assim como para o Elvis e o Francisco.

Quanto tempo demorou para escrever, arranjar, gravar e terminar Order of Chaos?
O ano de 2014 foi dedicado exclusivamente à estruturação da banda. Logo no início de Janeiro daquele ano começamos a compor os instrumentais das músicas, terminando no final de Março. De Abril à Maio fizemos a pré-produção junto com o produtor Fabiano Penna, finalizando logo que o Francisco entrou na BLACKNING, ajudando a resolver a parte musical, letras e rítmicas de voz. Já as gravações aconteceram durante a copa do mundo, entre Junho e Agosto, em estúdios variados, entre eles o Acústica, de São Caetano do Sul. A mixagem aconteceu em Setembro e a masterização ocorreu no início de Outubro. A Vingança Music mandou o “Order of Chaos” pra fábrica na primeira semana de Outubro e em Dezembro o álbum físico foi lançado. Gastamos quase 1 ano exato para fazer tudo, mas sabíamos que o prazo seria esse já no início da banda, por experiência, trabalhando com cronogramas possíveis, para viabilizar todas as etapas do processo.


Vocês trazem forte influência do thrash dos anos 1980. Estou errado?
Ouvimos de tudo e acaba pintando um pouco desse “tudo” em nossa música. Se for analisar com calma, você pode encontrar influências de Punk, Death Metal, Hard Core, Thrash Metal ‘80s, etc. Sempre tem um detalhe ou outro que inserimos para tirar a fórmula quadrada de um único estilo, mas ninguém melhor do que o público para ouvir e tirar a conclusão. No geral, a forma de tocar da banda é o Thrash Metal, mas tentamos deixar o som mais interessante possível dentro da proposta da BLACKNING.


Do que tratam as letras?
Falam de temas do dia-a-dia, que você pode ver, por exemplo, na TV. Coisas que afligem a sociedade, incomodam e que não tem como deixar de lado.

E o que serve de inspiração para seus temas e para a sonoridade?
Tudo o que incomoda, servindo com válvula de escape pra gente, como política, religião, violência, censura, preconceito, entre outros. Já na parte positiva, a determinação e vontade de vencer na vida, não no lado financeiro, mas sim na busca interna, também inspira. De sonoridade, o que nos inspira são aqueles sons que gostamos e ouvimos desde moleques, do rock ‘n roll aos estilos mais extremos. São muitas bandas e artistas que acabam fazendo nossa cabeça funcionar melhor durante a composição.

Acha que a música, além de entreter, tem como função alertar, fazer refletir, denunciar?
Com certeza. Uma música feita somente para ser vendida, sem conteúdo ou preocupação com quem pode consumi-la, na minha opinião, nem deveria existir. A música existe como entretenimento há muito tempo, ainda que vinculada com a dança, que acabou sendo adaptada pra cada estilo musical, mas a parte lírica tem que ser feita com cuidado, para fazer o ouvinte pensar e viver uma experiência, junto com a harmonia musical em sí. Hoje a música é um produto, mas não precisa ser algo descartável, de apenas uma temporada. No rock, no punk e em outros estilos, a questão de alertar, refletir e denunciar é ainda mais latente, um pouco por remeter ao estilo musical, mais agressivo – portanto com temas mais pesados - e ainda mais por questão dos temas que os fãs do estilo se identificam ou se incomodam.

Uma curiosidade. Por qual razão escolheram cantar em inglês?
Questão de foco de trabalho. Poderíamos sim fazer temas em português, mas desde o começo a banda se propôs a fazer algo voltado pro “macro”, global, e não apenas para os fãs que falam um idioma específico. Questão também de querermos trabalhar forte o nome da banda em outros países. Não condeno quem canta em português, de maneira alguma, inclusive acho muito legal, mas na nossa opinião, pra atingirmos um público maior, teríamos de apresentar um trabalho em inglês, por ser o idioma universal entre-países e pro estilo musical, salvo raras exceções. Tivemos dezenas de resenhas internacionais do nosso trabalho de estréia, e fico pensando em como o ouvinte de lá ia interpretar nosso som, ouvindo uma letra num idioma que não é familiar à ele. Por exemplo, imagina você ouvir uma música em polaco: você pode até curtir a música em sí, mas a parte lírica perde sua força e todo o trabalho de passar uma mensagem pode ir por água abaixo. Para não dizer que não temos algo composto em nosso idioma, no “Order of Chaos” tem o som “Censored Season”, com trechos em português, por se tratar de um tema sobre censura, e a galera daqui gosta muito desse som quando a tocamos ao vivo.

Tem alguma música preferida sua nesse disco?
Eu gosto de todas, mas as músicas que viraram clipes (“Thy Will Be Done” e “Unleash Your Hell”) são as que me mais me identifiquei, mesmo a primeira sendo mais na veia “Thrash” e a outra mais “Metal simples”. Mas é complicado, pra quem compõe, todas as músicas têm sua importância dentro do contexto. É cliché, mas cada música é como se fosse um filho, não dá pra ter preferência por um ou por outro.

O disco será lançado na Europa. Como aconteceu isso e quão importante para a banda é esse lançamento lá?
Sim, sairá em breve. Teve um atraso muito grande entre o período definido com a gravadora de lá e a banda, atraso esse ocasionado por causa deles, mas acredito que até o fim desse ano teremos aqui em mãos a versão Européia do “Order of Chaos”. Pra gente é muito legal ter o reconhecimento de pessoas de outros países, outras culturas, com outras experiências de vida, mas levamos tudo isso com tranquilidade e pé no chão, pois hoje em dia o trabalho de uma gravadora nada mais é do que servir como um banco, que investe antes na banda para obter lucro depois, mesmo que pequeno. Pra banda que corre atrás de tudo, ou quase tudo, como o nosso caso, não muda muito, apenas fortalece o trabalho que está acontecendo. Mas com certeza foi uma conquista importante, pois tudo isso está relacionado ainda ao nosso primeiro álbum, lançado apenas há pouco mais de 9 meses. Com certeza esse lançamento ajudará bastante a banda por lá.

Impossível negar que o ABC é celeiro de bandas e músicos. Como avalia a cena hoje?
A cena existe, com certeza. Temos organizadores focados em fazer girar a região, como o Eduardo Vieira da Ataque Extremo (vocalista da banda Absyde) e o Tiago Claro da TC7 Produções (guitarrista da banda Seventh Seal), que têm trazido shows legais pro público da região. Tem também alguns eventos pontuais das prefeituras da região, mas esses vejo com olhos mais críticos, pois muitas vezes esbarram em burocracias e questões que vão além do que enxergo como correto, mesmo tendo o apoio das pessoas dentro dos departamentos de cultura de cada cidade daqui. Eu mesmo sendo da cidade, nunca consegui tocar em eventos da prefeitura de Santo André, mesmo deixando cada lançamento na mão deles, com material completo e com uma apresentação caprichada. Como músico, já toquei mais vezes, por exemplo, no interior da Bahia e no Acre, do que aqui na nossa região, mas acredito que tudo é no seu tempo. Mas no geral, aqui no ABC, as bandas estão direcionadas, focadas e trabalhando bem, cada uma com sua estratégia própria para fazer o seu nome ser divulgado aqui e para fora.

Quais os próximos planos?
Pra já, temos 11 shows marcados para nossa primeira turnê nacional, a “ORDER OF CHAOS TOUR”, que acontecerá entre os meses de Outubro a Dezembro desse ano, divulgando nosso álbum de estréia. Nessa turnê cruzaremos 9 diferentes estados, até o momento, passando pelo Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. Para Fevereiro, entraremos em estúdio para gravar nosso segundo álbum, com previsão de lançamento para Julho de 2016. No paralelo, estamos alinhando shows em outros estados do Brasil e iniciando a organização da nossa primeira turnê européia, que ocorrerá entre Setembro/Outubro do ano que vem, já divulgando o segundo CD. Estou conversando com alguns outros selos de lá para o possível lançamento desse outro trabalho e pensando em estratégias de como alastrar o nome da banda, aumentando a exposição. A composição do cd está a mil e posso adiantar, mesmo sendo suspeito pra falar, que este novo trabalho está mais legal do que o primeiro. Uma nova evolução. Estamos correndo, da melhor maneira possível, para fazer as coisas do jeito que consideramos correto e divulgar nosso trabalho.

Quer dizer algo mais?

Aproveito para convidar aos leitores e fãs do estilo para comparecerem no nosso show de sábado, 03/10/15, que ocorrerá na Troppo – Avenida Goiás, 1462, em São Caetano do Sul – e prestigiar a cena. Esse show terá várias ótimas bandas divulgando trabalho autoral, e lá poderá conferir o trabalho de todos que batalham para promover seu trabalho. No mais, visitem nossas páginas na web, conheçam a BLACKNING e fiquem ligados que em breve terá mais novidades. Grande abraço!

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