sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Entrevista - Stacey Kent lança disco com Roberto Menescal

Como surgiu a ideia de fazer esse disco?
Encontrei Roberto em 2011 no “Show De Paz” no Rio e ficamos amigos imediatamente. Mesmo que sejamos de gerações e culturas diferentes descobrimos que temos muito em comum do ponto de vista da música, filosofia e etc. Durante as nossas conversas por Skype e e-mail, descobrimos que amamos não somente os grandes "standards" do Great American Songbook, mas amamos também os discos de Julie London e Barney Kessel. Convidei o Menescal a fazer umas faixas no meu disco, “The Changing Lights”. Foi durante a gravação que ele deu a ideia de um disco de standards no estilo íntimo de voz e guitarra como Julie London e Barney Kessel. Claro, disse OK sem hesitar!

Era uma vontade antiga regravar clássicos da música dos Estados Unidos?
Mesmo que tenha cantado mais as canções inéditas, francesas e a música brasileira nos últimos anos, nunca deixei de cantar os clássicos norte-americanos. Mas a ideia de fazer um disco assim com Menescal foi tão natural. A gente compartilha uma sensibilidade. Parecia muito natural fazer este repertório com Roberto. Também antes de gravar, falamos muito das coisas em comum entre o mundo dele, a Bossa Nova, e a meu mundo do Jazz, falamos da ligação da harmonia e para este projeto em particular, a ligação entre o relacionamento muito íntimo da voz e violão e que poderíamos criar de novo aquela atmosfera. Menescal nos fala muito dos anos no início, cantando, tocando na casa da Nara Leão, e os duetos que eles fizeram juntos, parecido com Barney e Julie. Queríamos continuar nesta tradição.

E a escolha do repertório do disco foi difícil?

Foi difícil, mas somente no sentido que tínhamos uma escolha tão grande. A dificuldade foi eliminar tantas canções que poderíamos ter gravado. Na realidade, fazer dez discos assim teria sido fácil!
Como é o cenário musical para esse tipo de música nos Estados Unidos? É algo que os jovens também escutam?
Esse tipo de música fez parte da cultura dos EUA sempre. Ouve-se na rádio, nas lojas, nos filmes etc. Por isso, os jovens ainda conhecem bastante bem os standards e já existe um público que ama os Standards. O disco com Roberto tem sido muito bem recebido.
Como foi o processo de gravação desse disco?
Planejamos o disco por Skype e e-mail. Roberto escolheu a maioria do repertório. Para mim, a única canção que eu sugeri que Roberto ainda não conhecia foi “If I'm Lucky”, de Perry Como. Eventualmente, Roberto chegou em Londres para gravar. Ensaiamos em casa bem relaxados e depois fomos para o estúdio. O estúdio fica no campo, fora de Londres. Tem jardins lindos e um clima muito aconchegante. Gravei todos os meus discos ali e foi um prazer introduzir Roberto ao meu mundo depois de sermos tão bem recebidos no Brasil.

Quando escuto Tenderly, ele soa quase que ao vivo, e muito orgânico. Essa era a ideia?
Foi. O clima é quase bossa nova - voz e violão. Não foi uma grande produção, mas é a música como se toca em casa entre amigos.

Das canções que você regravou para Tenderly, mudaram arranjos ou as músicas são como as versões originais?
Foi somente “In The Wee Small Hours” que eu regravei e foi um arranjo que Menescal fez. É bem diferente.

O disco tem músicas doces. Acha que o mundo está precisando de mais amor nos dias de hoje?
Concordo! Fico muito feliz de ser capaz de contribuir algo ao mundo que possa ajudar.

Tem algum toque brasileiro nessas músicas do disco Tenderly?
Além da canção do Menescal, “Agarradinhos”, que tem um toque de swing dos anos 50, como disse, o clima do disco - voz e violão e muito bossa nova.

Sei que você é apaixonada por música brasileira. Você descobriu algum artista que está ouvindo atualmente?
Tem tantos artistas aí que amo e que ainda estou descobrindo! Mas não penso em termos de ano nem da idade, a música toca o coração ou não.
 
Você pesquisa por artistas antigos do Brasil?
Hoje em dia, é fácil pesquisar graças à Internet, mas também os meus amigos brasileiros, sabendo que amo a música brasileira, me mandam nomes dos discos que talvez não tenha ouvido.... Escuto bastante Cartola neste momento. E sempre escuto João Gilberto. Mas a lista é enorme e não temos tempo pra falar de tudo! Passei a semana passada apresentando “Cantiga de Longe” a alguns amigos americanos que não conheciam o trabalho do Edu Lobo. Ficaram apaixonados.
 
Você tem vontade de fazer um disco só com músicas de algum artista brasileiro?
 Já fiz um disco “AO VIVO” e DVD com o grande cantor, compositor e amigo, Marcos Valle. Cantei recentemente também uma faixa com Danilo Caymmi, no disco dele que vai ser lançado daqui a pouco, tocando uma música do Jobim. Da mesma geração, adoro a música de Edu Lobo, Joyce Moreno, Dori Caymmi. (Isso me faz lembrar de um disco que eu amo do Dori, “Contemporâneos”, em que ele toca as músicas dessa geração. Uma maravilha.) Na verdade, tem tanta riqueza de compositores talentosos, seria possível fazer muitos discos! Eu vou!
 
Pretende vir ao Brasil para divulgar o disco Tenderly?
Espero que sim! Não há nada planejado neste momento.
 
Quer dizer algo mais?
Foi uma honra gravar com Roberto Menescal. Ele é um músico e um homem muito querido.

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