Mesmo que ainda não tivesse assumido publicamente sua paixão pelos trabalhos de Vinicius de Moraes, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, ente tantos outros brasileiros, está mais do que claro que a cantora Esperanza Spalding se lambuza sem medo de ser feliz na música brasileira.
A norte-americana de cabelo armado e de apenas 26 anos faz bonito e tira com classe do bolso Chamber Music Society (Universal Music, R$ 26 em média), terceiro trabalho de sua discografia, que inclusive lhe rendeu o prêmio de artista revelação no Grammy deste ano. Ao lado de Gil Goldstein, Esperanza, que também é contrabaixista, assina a produção do disco. Acompanhada pelo baterista Terri Lyne Carrington e pelo pianista Leo Genovese, a compositora recheia o álbum com 11 canções, sete de sua autoria. Chamber Music Society é temperado principalmente pelo jazz, que flerta com paixão com temperos de bossa nova.
Prova disso são os belíssimos arranjos vocais espalhados ao longo dos pouco mais de 56 minutos de
música. Isso sem contar todo o ótimo trabalho realizado pela trinca de cordas representada pelos músicos Entcho Todorov, Lois Martin e David Eggar para arranjar o disco com violino, viola e violoncelo. A musicista abusa e experimenta sem pudor de arranjos e ruídos. E se dá bem, como em Chacarera, composta pelo pianista Leo Genovese. Chamber Music Society é intimista, ora delicado, ora tenso, e tem enorme poder de fogo. Esperanza, que inclusive já se apresentou em terras tupiniquins, tem sido aclamada já há algum tempo como a nova descoberta do jazz. Em seu segundo disco, Esperanza, lançado em 2008, ela fez uma releitura para Ponta de Areia, de Milton Nascimento. Agora, ela trouxe o músico carioca para participar ao seu lado na canção Apple Blossom.
O resultado? Um emocionante dueto vocal e arranjos arrojados. Uma canção que se derrete nos ouvidos.
A cantora faz ainda outra referência à música brasileira, arrisca – e se sai bem no português inclusive – e
coloca no menu sua versão delicada para Inútil Passagem, composta por Tom Jobim e Aloysio de Oliveira.
Mas o melhor momento de toda a viagem sonora fica por conta de sua interpretação – de tirar o fôlego, digase de passagem – para Wild Is The Wind. Na canção composta originalmente pelo ucraniano Dimitri Tiomkin ao lado de Ned Washington, para o filme homônimo datado de 1957, Esperanza aquece a voz e coloca todo seu coração na canção e proporciona momentos emocionantes. Wild Is The Wind também já ganhou vida nas vozes de David Bowie, Nina Simone e Cat Power. Chamber Music Society é curioso, belo e imperdível, pode apostar.
Num mundo de tantas porcarias musicais, ainda há Esperanza...
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