terça-feira, 5 de outubro de 2010

O disco que invadiu todas as praias

Há 25 anos as vitrolas começaram a tocar canções ousadas de um álbum que havia acabado de sair do forno. Eles eram apenas garotos, mas brincalhões, inteligentes e atrevidos.
O disco? Nós Vamos Invadir Sua Praia. A banda? Ultraje a Rigor.

Agora, 1/4 de século após seu lançamento, o disco é relançado (Polysom, R$ 80 em média) da mesma forma que veio ao mundo: vinil. Em edição limitada, o álbum integra a série ‘Clássicos em Vinil’. Produzido com 180 gramas de vinil, teve o áudio remasterizado das fitas originais.

Os mais desavisados podem achar que se trata de uma coletânea de clássicos da banda, afinal, listam no disco canções como Rebelde Sem Causa, Mim Quer Tocar, Ciúme, Inútil e Eu Me Amo, por exemplo.

Mas não. É o disco de estreia do Ultraje, que das 11 faixas que lá constam, nove invadiram todas as praias. “Eu mesmo não tenho mais onde ouvir vinil”, brinca Roger, vocalista, guitarrista e compositor da banda. “Eu fiz questão de ter um para mim e estou louco para ouvir em algum lugar. Parece disco importado, e fico contente, pois estão escolhendo a dedo os discos que saem”, conta.

E não é só Roger que deve estar contente. Os fãs também, afinal, é quase impossível encontrar CDs do grupo. Roger revela que recebe muitos pedidos de fãs pelo Twitter (@roxmo), mas não tem como atender, pois não possui poder sobre os discos. “As músicas serão sempre minhas, se eu quiser regravá-las, tudo bem. Mas as versões originais, os fonogramas, pertencem às gravadoras. A Polysom disse que vai lançar nosso segundo disco em vinil também”, salienta.

Os garotos de São Paulo saíram da casa dos pais e passaram dois meses no Rio de Janeiro gravando o disco, relembra Roger. “O clima no estúdio com o Liminha era gostoso, tínhamos brincadeiras de ginásio. Colocávamos baldes com água em cima da porta, quando alguém entrava se molhava todo”, conta aos risos. “Tudo correu bem, na direção certa e nós nos divertindo. Acho que passou esse clima para o disco”. E passou mesmo.

Mas Nós Vamos Invadir Sua Praia não foi feito só de brincadeiras. As letras alfinetavam o momento político do País e também observavam o comportamento social. “Era algo que catalisava o pensamento do pessoal na época, então, sem dúvida era mais estimulante escrever naqueles tempos. Tinha mais assunto”.


Quando o álbum saiu, o País vivia o fim da ditadura, e algumas faixas como Marylou tiveram de ser modificadas. “A frase que ficou foi ‘Botar ovo pelo Sul’, quando a ideia era outra”, brinca o músico. “Dava um pouco de medo, não era a mesma coisa dos anos 1960, mas ainda dava um pouco de medo. Você tinha de falar por meio de analogias, de subterfúgios”, diz.

O grupo começou alguns anos antes, fazendo releituras de canções dos Beatles. Roger destaca que faziam as canções da fase inicial do grupo inglês, pois eram mais fáceis de tocar.

Roger tira do bolso várias histórias engraçadas, entre elas, a da grafitagem. “Fazíamos as propagandas com filipetas e grafite nos muros para divulgar a banda”, revela rindo. E continua: “O grafite era moda, né, colocávamos nosso logotipo e ninguém sabia do que se tratava, mas achavam curioso. Às vezes chegávamos no bar para tocar e o dono dizia: ‘Eu já ouvi falar de vocês’. Mas não, ele tinha visto no muro da esquina”.

Sucesso espontâneo em plena época de efervescência cultural, Nós Vamos Invadir Sua Praia veio para ficar.
E ficou! Assim como o Ultraje, ativo até hoje.
O álbum se tornou um clássico, quebrou barreiras e agora está aí, novo em folha novamente.

Coluna publicada hoje, no jornal Diário do Grande ABC.

Um comentário:

  1. Com uma coleção de mais de 2.000 vinis e uma "vitrola" STanTOn, ainda ouço meus discos. Mas é saudosismo, pois os CD´s já são melhores. E não têm "trec-trec-trec".

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