Trajando camisa xadrez azul e preta – que junto com outros materiais promocionais oficiais também estava à venda em loja montada no hall de entrada –, John Fogerty, 65 anos, fez em sua primeira visita ao País show para sujeito algum botar defeito. Assim que subiu ao palco, de suas mãos saíram notas que anunciaram o clássico Hey Tonight, responsável pelo primeiro contato do músico com o público, que se mesclava entre cinquentões e jovens.
Esbanjando energia e com a guitarra sempre pronta para fazer barulho, o músico tirou do bolso Green River. Ali ficou claro que o show seria catarse roqueira até o fim. Acompanhado por banda impecável, que conta com o excelente baterista Kenny Aronoof, dois guitarristas, baixista, e tecladista, Fogerty promoveu clima de festa e estampou sorriso no rosto de todos no momento que anunciou o clássico Who’ll Stop The Rain. O refrão “And I wonder, still I wonder, who’ll stop the rain?” foi cantado por todos.
Algo que impressiona em uma apresentação como essa é que, mesmo que não se saiba o nome da canção, a identificação é imediata. Fogerty é responsável por isso: composições que andam por si só. De seu livro de receitas saíram também Susi Q, Lookin’ Out My Back Door e Born On The Bayou, todas temperadas por arranjos dignos de quem carrega na mochila mais de quatro décadas de experiência. Mas Fogerty não se contentou apenas com a força das canções e surpreendeu. Empunhando a guitarra para o alto, tocou insanamente. Com sua parceira, que era trocada a cada canção – promovendo um belo desfile de guitarras – fez solos sujos e improvisou tendo como pano de fundo o petardo I Put A Spell On You.
Com vozeirão intacto, o guitarrista tirou o pé do acelerador e apresentou a belíssima Long As I See The Light. Esforços não foram poupados durante o emocionante solo – uma lamentação mergulhada nas profundas raízes do blues promovida pelas seis cordas. Tirando uma ou outra música da carreira solo – ainda não tão bem conhecida por todos – como Don’t You Wish It Was True, por exemplo, o show teve clássico atrás de clássico.
Have You Ever Seen The Rain foi dedicada à mãe de sua filha e também a todas as mães. Fogerty ainda lembrou Roy Orbison com Oh Pretty Woman e fez versão para Good Gooly Miss Molly, de Little Richard. Não faltaram também Down On The Corner, Bad Moon Rising, Fortunate Son e Rockin All Over The World.
Fogerty sorriu o tempo todo, não se cansou de dar a mão aos que estavam encostados na grade. Correu e pulou feito um garoto que descobre o mundo. E talvez seja esse o segredo mágico para que canções como essas estejam vivas. Afinal, música é motivo para relembrar e descobrir.
Fotos: Ronaldo Chavenco
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