Eram tempos em que o nascimento de um bom disco significava mais do que criar um álbum de hits. Foi nessa época não tão distante que o mundo ganhou Exile on Main St., dos Rolling Stones, um dos últimos grandes discos de todos os tempos.
Após 38 anos de seu lançamento, Exile on Main St. ainda é uma bela caixa de surpresas que parece ter aparecido do túnel do tempo, pois preciosidades que haviam ficado de fora do clássico álbum agora saem do baú para integrar a nova versão do disco.
Exile on Main St. (Universal Music, R$ 45 em média) ganha edição especial que, além do álbum original, agora todo remasterizado, traz um segundo disco com dez excelentes canções inéditas.
Um livreto ilustrado com fotos das sessões de gravação também integra o pacote.
O cuidado com este ‘novo velho’ trabalho foi tão grande que as melodias e timbre de voz de Jagger, apesar de novas, parecem ter sido gravadas naquele mesmo ano. Em 1971, os Rolling Stones já colecionavam nome de respeito e álbuns como Beggars Banquet e Stick Fingers, além de dívidas até o pescoço.
Para fugir das altas taxas britânicas, o grupo se exilou no Sul da França e lá, em pleno verão, montou seu quartel musical no empoeirado porão da mansão Nellcôte, – um possível quartel-general da Gestapo durante a Segunda Guerra Mundial –, alugada por Richards, na ensolarada Côte-da-Azur.
Foi nesse porão que Mick Jagger – que passava mais tempo em Paris, cuidando da gravidez de sua mulher Bianca – Keith Richards, Mick Taylor, Charlie Wats e o baixista Bill Wyman passaram o verão produzindo pérolas como Tumbling Dice e Sweet Virginia.
Em Los Angeles, meses depois, o disco ganhou novas partes e também as participações de Billy Preston, Nick Hopkins e vários outros.
No porão, os músicos testavam sonoridades, mudavam os equipamentos de um canto para o outro a fim de obter algo diferente. E conseguiram!
Exile tinha tudo para ser um álbum triplo quando lançado, pois as canções produzidas durante as extensas sessões – tanto as que foram lançadas como as que haviam ficado de fora – são belas por excelência.
Das que estavam adormecidas, todas são vibrantes, têm molho e swing. Plundered My Soul, um claro exemplo, é recheada de climas, de belos arranjos de piano, voz e guitarras, resultado da saudosa parceria entre os guitarristas Richards e Taylor.
Músicas feitas a partir de sentimentos, com o coração, que passam longe do processo mecânico de fazer música de hoje em dia. Essas receitas se aplicam para a belíssima e triste Following the River e para a dançante Dancing in the Light. Só de escutar dá para imaginar os Rolling Stones dançando enquanto tocam.
Todas elas estavam guardadas no baú, o baú mágico dos Rolling Stones.
Exile on Main St. é um raro momento de luz, em tempos em que o sentimento transcendia a técnica, tempos nos quais a música era apenas música e nada mais.
Coluna publicada ontem no caderno de Cultura do Diário do Grande ABC.
Stones é sempre uma boa indicação!!1
ResponderExcluirDeu ate vontade de escutar!!!
escuntando: Jumping Jack Flash